
Jogadores do Fluminense Imperadores treinam no campo de grama sintética do Aterro do Flamengo: atuais campeõesGustavo Stephan / Agência O Globo
RIO - A frequência com que a sigla da liga de futebol americano (NFL) vem aparecendo entre os assuntos mais comentados do Twitter brasileiro não deixa dúvidas: historicamente rejeitado no país da bola redonda, o esporte do Tio Sam passa por um crescimento inédito do lado de cá do Equador. Isso fica aparente quando grupos de jovens se reúnem para ver os playoffs da NFL, que, pela primeira vez, são integralmente exibidos na TV do Brasil. E a mudança fica mais clara quando se dá conta de que, em três anos, o número de filiados à Associação de Futebol Americano no Brasil (Afab) subiu de oito para 60.Hoje, o país de Pelé e Neymar já conta até com uma seleção brasileira de futebol americano, que, aliás, tem amistoso marcado contra o Chile, dia 21 de janeiro, em Foz do Iguaçu (PR).
Os amigos Elias Barrionuovo, de 19 anos, Pedro Argento, também de 19, e Eduardo Miceli, de 20, começaram a acompanhar os jogos da NFL em 2007, quase sem conhecer as regras do jogo. Hoje, são praticamente especialistas, e estão ansiosos para o dia 5 de fevereiro, quando acontece o aguardado Super Bowl, grande partida final da NFL.
— Comecei a ver por influência de um amigo e, há uns três anos, meti a cara mesmo, comecei a estudar, entender as regras. Fui atrás da história dos times até escolher o meu — conta Eduardo, vestindo uma camisa do quarterback (armador) do New Orleans Saints, Drew Brees. — A história deles é bonita, de muita superação.
Mas não foi só em frente à TV que cresceu o número de fãs do esporte da bola oval. O Brasil tem dois campeonatos nacionais: o Torneio Touchdown e a Liga Brasileira de Futebol Americano (LBFA). No último Brasil Bowl, final da LBFA, realizada em Curitiba no fim de 2011, sete mil pessoas foram ao Estádio Couto Pereira assistir à vitória do Fluminense Imperadores sobre o Coritiba Crocodiles.
Esses atletas não recebem salário e até pagam para jogar. Transporte e equipamento saem por conta de cada um (só o capacete e a proteção peitoral custam R$ 1,5 mil). O time do Fluminense treina uma vez por semana, numa área militar na Penha, mas os jogadores querem pedir à prefeitura para usar um campo de futebol (brasileiro) no Aterro do Flamengo. Ramez Georges Hage, de 26 anos, atleta dos Imperadores, não desanima. Ele sabe que existe preconceito contra o esporte, visto como um jogo excessivamente truculento, mas garante que não há motivos para isso.
— A maioria vê só a pancada, mas esse deve ser o esporte com mais faltas. São várias regras de como você pode derrubar o adversário, onde você pode pegar. Exatamente para garantir a integridade física de quem joga. É tudo muito mais tática do que força. Tanto que são quatro técnicos na beira de campo — diz Hage.
Sobre o preconceito, Elias Barrionuovo, fã do esporte gringo, faz um paralelo entre o futebol americano e o MMA:
— Também havia preconceito com o MMA, que era um nicho e virou popular. No caso do futebol americano, é mais difícil, porque é preciso conhecer minimamente as regras para acompanhar um jogo. Agora, se comparar a situação atual com dois anos atrás, cresceu bastante.
Nesta temporada da NFL, o canal ESPN aumentou as exibições no Brasil de dois jogos por rodada para, ao menos, quatro.
— Chegamos a transmitir sete jogos numa rodada em 2011 e, pela primeira vez, estamos exibindo todo o playoff ao vivo — conta Everaldo Marques, narrador dos jogos na ESPN. — Eu também faço a locução de basquete e outros esportes, mas a maioria das pessoas que me aborda na rua vem falar de NFL.
Um dos sonhos dos adeptos desse esporte por aqui é ver um brasileiro vestindo a camisa de um time da NFL, e isso pode acontecer em breve. O brasileiro Maikon Bonani, de 22 anos, é kicker (chutador) do USF Bulls, um time universitário da Flórida. Em 2013, ele terminará a faculdade e tem boas chances de ser contratado por uma equipe profissional. Segundo o presidente da Liga Brasileira de Futebol Americano (LBFA), Orlando Ferreira Júnior, o mesmo caminho está sendo perseguido por vários outros jovens:
— Tem um garoto de 16 anos, que joga em Cuiabá, que é um talento. Ele já está sendo assediado por escolas americanas que querem levá-lo para lá.